sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Bilhete

O teu vulto ficou na lembrança guardado,
vivo, por muitas horas!... e em meus olhos baços
Fitei-te – como alguém que ansioso e torturado
Tentasse inutilmente reavivar teus traços...
Num relance te vi – depois, quase irritado
Fugi, - e reparei que ao marcar os meus passos
ia a dizer teu nome e a ver por todo lado
o teu vulto... o teu rosto... e o clarão dos teus braços!
Talvez eu faça mal em querer ser sincero,
censurarás – quem sabe? Essa minha ousadia,
e pensarás até que minto, e que exagero...
Ou dirás, que eu falar-te nesse tom, não devo,
que o que escrevo é infantil e absurdo, é fantasia,
e afinal tens razão... nem sei por que te escrevo!
Mais posso garantir filha
Apenas escrevo pq te amo.

Exaltação do amor

Sofro, bem sei... Mas se preciso fôr
sofrer mais, mal maior, extraordinário,
sofrerei tudo o quanto necessário
para a estrêla alcançar... colher a flor...

Que seja imenso o sofrimento, e vário!
Que eu tenha que lutar com força e ardor!
Como um louco talvez, ou um visionário
hei de alcançar o amor... com o meu Amor!

Nada me impedirá que seja meu
se é fogo que em meu peito se acendeu
e lavra, e cresce, e me consome o Ser...

Deus o pôs... Ninguém mais há de dispor!

Se êsse amor não puder ser meu viver
há de ser meu para eu morrer de Amor!

O verbo amar

Te amei: era de longe que te olhava
e de longe me olhavas vagamente...
Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,
que a alma da gente faz escrava.

Te amava: como inquieto adolescente,
tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava
adivinhando esse mistério ardente
do mundo, em cada beijo que te dava.

Te amo: e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor, enquanto
segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando...

Te amar: é mais que em verbo é a minha lei,
e é por ti que o repito no meu canto:
te amei, te amava, te amo e te amarei!

Missão

Meus versos terão cumprido a sua missão
se puderem ser pedra e areia
servirem de barricada.

Se puderem ser o hino, quando o desânimo
se levantar como a poeira dos escombros.

Se puderem permanecer no alto, como a bandeira
rasgada e irreconhecível, mas tremulando.

Terão cumprido a sua missão
se na hora em que precisarem deles
não negarem fogo como a boa arma,
se outros puderem ouvi-lo, como o esperanto,
depois da vitória do homem e da vitória do povo.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Esqueço-me

Mesmo sem sair de casa sinto o vento que percorre

As ruas à minha procura. E aconchego-me um

Pouco mais nesta minha cama de sonhos

Nunca partilhados… Ouço a voz da chuva a

Chamar por mim num desafio de coragem e

Ainda assim o calor dos lençóis e das mantas

Da minha cama prendem-me propositadamente.
Estou entre o querer ir e o querer ficar!
Pergunto-me de que vale ir ao encontro dessas

Questões da natureza e, na mesma pergunta,

Embargo o meu desejo de ficar num espaço

Em que já não tenho tempo para sonhar…
Sinto-me em falta noutro local.

Nesse momento de alguém que queira o

Apoio que posso oferecer ou que, simplesmente,

Só queira um dos meus sorrisos

Que esbanjo pela vida fora.
Mas teimoso, fecho os olhos,

E numa reviravolta estratégica adormeço devagar…
Esqueci-me de tudo e de todos! Até de mim…

Meu amor... trouxe-me o vento os suspiros do

Teu desejo e as palavras que sempre ambicionei

Ouvir e agora posso tê-las. Soube desde o

Primeiro instante que tu eras o meu destino

E descobri, na carícia do teu olhar, que

Minha alma te pertence há muito.
Sonho com um gesto teu desde o primeiro

Momento e aguardei, na ânsia, por uma

Palavra tua, que tardou em chegar.

Por mais incrédulo o meu sentir,

Nunca consegui matar a esperança que julguei vã,

E hoje, meu amor... Hoje!... Hoje tornaste o meu

Mundo mais feliz, porque sinto

Agora que estás no meu universo.
Aguardo-te na nossa praia, onde já misturei com

O mar as lágrimas de saudade ao pôr-do-sol.

Oh! Ternura. Doce brisa que

Afaga a minha imaginação… Oh! Loucura dos

Dias que passo entre o mar e a areia a olhar o

Teu rosto imaginado, o teu corpo esculpido no

Querer da minha imensidão feita de um rochedo perdido…
Tu nunca chegaste! E a tua resposta foi criada

Pela minha loucura, isenta de qualquer realidade.

Morri na nossa praia. E o corpo perdeu-se

Nas areias da imprecisão.
Tu nunca chegaste… mas as ondas visitaram-me

Sempre, e foram elas que alimentaram a

Minha esperança, o meu desejo e a

Minha vida, perdida… nesta ilha do amor…

Deixas a noite cair
para desceres do teu berço dourado
deixas a escuridão envolver-te em fragrâncias
e despertas o teu falir
nessas palavras feitas de ânsias
escondidas no âmago imoderado.
Estranha alegria
que fazes sair
recôndita na prosa e na poesia
eloqüente sem mentir.
Voltas ao ataque
procuras um destaque
estranha alegria que fazes sorrir.
E no momento
em que escreves a palavra plágio
fazes-me ser o evento.
Fazes o vento fugir
e de mim um Ás
estranha alegria que dás…

Sonhos

Às vezes, parece que nossos sonhos

Desmoronam em nossas mãos.

Nós achamos que falhamos e

Que tudo o que tentamos tanto

Conseguir ficara para sempre fora do alcance.

Uma derrota não pode trazer abaixo

Os sonhos que anos de trabalho duro e

Dedicações edificaram.

Por isso, apegue-se aos seus sonhos,

Acredite em si mesmo e você vai

Descobrir que um hoje brilhante o aguarda

Logo na próxima esquina.

Compreenda que a vida é uma serie

De níveis e ciclos de altos e baixos

Alguns fáceis outros desafiadores.

Através de tudo isso aprendemos,

A fortalecer nossa fé.

AO CÉU DO NOSSO AMOR

Quando o teu desejo se faz ave

E plana, sobre mim, em voo rasante,

Eu fico suspenso do instante

Em que o vento se faz brisa suave.

Para que pouses em mim, suavemente,

Transmita-me, das aves, corpo e mente

E nos alcemos da terra limitada

Ao céu do nosso amor, de tudo ou nada.

NO HORIZONTE DA NOSSA ALMA

No horizonte da nossa alma

No universo das nossas emoções

Cruzam-se sentimentos

Despertam as sensações.

A chuva cai

Molhando o nosso rosto angustiado

Inundando a nossa alma

Encharcando o nosso coração desolado.

A solidão nos invade

A tristeza...

Transparece no nosso rosto

O nosso coração sangra

A voz emudece

A mente se confunde

O corpo padece.

No horizonte da nossa alma

A luz não se pode apagar

Não devemos desistir

Devemos lutar

Sempre lutar!!

LUZES DE ESPERANÇA

Acendem as luzes da esperança
Fecho as portas da desgraça
Salto o muro da incerteza
Deste mundo de chalaça.

Pego no leme com vigor
Deste navio à deriva
Navego no mar revolto
Desta caneta de escriba.

Ao cais por fim chegarei
Navegando com firmeza
Sempre o leme segurando
Neste barco de tristeza.

Nestas águas turbulentas
Navegarei com vigor
Vendavais enfrentarei.

ENCONTREI-TE NO BANCO DO TEMPO

Encontrei-te no banco do tempo
Sentada à espera da primavera
Nos olhos…
Um olhar distante
Triste, ausente.

Encontrei-te no banco do tempo
Cansada de tanto esperar
Pela primavera que tarda a chegar
Pelo céu azul que teima em se ofuscar
Pelas nuvens negras
Que insistem em ficar.

Encontrei-te no banco do tempo
Com o desalento estampado no rosto
Com a tristeza no olhar.

Encontrei-te no banco do tempo
Embora triste e cansada
Com esperança e alento
Em busca da tua estrada.

Retrato de um Amor

Iluminas a sombra dos meus dias
neste mundo que abrimos devagar
entre o corpo e a alma, sempre mais
secretos no abismo que os devora.

Maior do que este amor nada haverá
até ao fim dos tempos: os teus olhos
respondem ao destino, à sua eterna
graça que paira sobre as nossas vidas
agora a transbordarem numa única
razão feita de luz. A tua boca
inunda a minha língua com o sabor
de todos os sentidos que mergulham
a noite numa água sem retorno.

Para ti absorvo o hálito de um verão
em cada beijo cego, surdo e mudo
respirando de súbito em uníssono:
enigma revelado num só frêmito,
insônia submersa que , em silêncio,
regressa pouco a pouco aos nossos braços
afogados na espuma do seu mar.

Perto do teu sorriso há uma fonte
embriagada e pura- meu amor,
dá-me esse coração, essa primeira
raiz de todo o fogo, esse relâmpago
onde cresce para nós a flor de um grito;
segreda-me às escuras mais um sonho
antes de adormeceres sobre o meu ombro.

Escotomas

Não sei o que é um espírito. Ninguém
conhece a fundo a luz do seu abismo
enquanto o vento, à noite, vai abrindo
as infinitas portas de uma casa
vazia. A minha voz
procura responder a outra voz,
ao choro dos espectros que celebram
a sua missa negra, o seu eterno
sobressalto. Num ermo
da cidade magoada escuto ainda
o rumor de um oráculo,
a febre de um adeus que se prolonga
no estertor dos ponteiros de um relógio,
nesse ritmo feroz, na pulsação
do meu sangue exilado que recorda
um abrigo divino. pai nosso, que estás
entre o céu e a terra, conduz-me
ao precipício onde hibernou a alma
e ensina-me a romper a madrugada
como se a minha face fosse
um estilhaço da tua
e nela derretessem, por milagre,
estas gotas de gelo ou de cristal
que não sabem ser lágrimas.

Arte Poética

Palavras, só palavras, nada mais
que a vã matéria, o seu sentido
eco de muitos ecos, repetido
reflexo de poderes tão irreais

como essas emoções graças às quais
terei de vez em quando pretendido
dizer "um só segredo a um só ouvido"
ciente de que nunca são iguais

os segredos e ouvidos que procuro
às cegas neste mar sempre obscuro
onde a voz deságua como um rio

sem nascente nem foz - apenas uma
incerta confidencia que se esfuma
e só foi minha enquanto me fugiu.

Á Chegada do Inverno

Nem sempre a vida acolhe ou alimenta
os nomes do passado, o seu abismo
repetido num sonho, na mais lenta
assombração, no mais íntimo sismo

Do que chamamos alma. Não existo
sem essa febre mansa que relembro
enquanto as nuvens cobrem tudo isto
com o frio escuro de um dezembro

Longe de mim, de ti, de qualquer lei
ou juízo a que demos um sentido:
o que finjo saber é o que não sei
e as palavras colam-se ao ouvido.

Fronteira

É doce a tentação do labirinto
assim que o sono chega e se propaga
ao contorno das coisas. Mal as sinto
quando confundo a onda sempre vaga

deste falso cansaço que regressa
ao som da minha estranha e dócil fala
cada vez mais submersa como essa
pequena luz da rua que resvala

pelo interior da noite. É quase um sonho
A respirar lá fora enquanto o quarto
se dilui na fronteira que transponho
e afoga a consciência de onde parto

agora sem direito nem avesso
no incerto momento em que adormeço.

Estava à Tua Espera...

Estava á tua espera
Desde o começo do mundo
No sentido da água dos indícios do fogo

Pousaste o olhar
Na luz que tardava
E em redor a neve ardeu

Havia uma casa
Um endereço uma magnólia incendiada
A nada alterou o itinerário das aves

Estava á tua espera
Desde o começo do mundo
Na despedida dos anjos
No rumor matinal de Abril

Com parcimônia escrevo
Num talento breve e ao abrigo da noite
As razões desta areia iluminada.